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Painel com ativista apátrida emocionou os congressistas

Painel com ativista apátrida emocionou os congressistas

Encerramento do XXIV CBM destacou as ações humanitárias da AMB

O último painel do XXIV do Congresso Brasileiro de Magistrados trouxe a defesa dos direitos humanos para o centro dos debates e emocionou os congressistas. Com a presença da ativista Maha Mamo e das juízas afegãs resgatadas do regime Talibã pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), os presentes puderam conhecer a história de quem lutou para que seus direitos humanos fossem garantidos e que encontraram no Brasil o acolhimento.

A presidente da AMB, Renata Gil, falou sobre a iniciativa e o trabalho realizado pela entidade para resgatar as juízas do Afeganistão e trazê-las em segurança para o Brasil. “Eu me coloquei no lugar dessas juízas. Imagine que por algum motivo, o Brasil estivesse em um regime totalitário e criminoso e eu não pudesse mais sair às ruas. Elas trabalhavam num regime democrático, condenaram o Talibã. Depois da tomada do poder, não iriam viver”, afirmou.

Renata Gil falou das intensas conversas que teve com o Governo Brasileiro e entidades internacionais para fazer o resgate, mesmo sem saber a real situação em que as juízas se encontravam. “Nós montamos um grande plano de ação”, destacou.

O painel também contou com a presença da ex-presidente da International Association of Women Judges (IAWJ), Vanessa Ruiz, que agradeceu a AMB por liderar o resgate das magistradas.
A juíza falou da importância da liderança da presidente Renata Gil, da secretária-geral da AMB, Julianne Marques, do secretário-adjunto da Secretaria de Relações Internacionais da AMB e vice-presidente da UIM, desembargador Walter Barone, e da diretora da AMB Mulheres, Domitila Manssur, nesse processo e afirmou que a associação valoriza os direitos humanos. “Nós compartilhamos o valor dos direitos humanos, de entrar e ajudar pessoas que precisam desesperadamente de ajuda. Isso não é caridade, é a coisa certa a se fazer”, disse.

As juízas afegãs participaram do painel e responderam perguntas feitas pelos congressistas sobre o resgate, a vida no Brasil e o Poder Judiciário no Afeganistão. Elas agradeceram à AMB e aos brasileiros pela acolhida. “Os brasileiros são gentis e atenciosos. Somos muito sortudas pelo o que os brasileiros e a AMB fizeram por nós”, disse uma das magistradas. A coordenadora da Escola Nacional da Magistratura, Marcela Bocayuva, também participou do painel e destacou a atuação da AMB e da ENM no processo de acolhimento. Já o advogado Marcos Joaquim Alves apresentou um panorama da história dos direitos humanos.

A história de uma apátrida

A ativista de direitos humanos, Maha Mamo, contou a história da parte da sua vida em que viveu como apátrida e como foi o processo de, finalmente, conseguir ser naturalizada brasileira. Os pais de Maha – o pai cristão e a mãe muçulmana – nunca puderam se casar na Sìria, já que o casamento inter religioso é ilegal no país. Foram para o Líbano e lá tiveram três filhos. Porém, o Líbano não dá a nacionalidade a quem não tem sangue libanês. Maha e os irmãos nunca tiveram documentos e conseguiram estudar com bastante dificuldade.

Maha buscou diversos países, até encontrar no Brasil o acolhimento. “Eu tinha um sonho de pertencimento, de ter um país que me aceita. Depois de ser negada pelo mundo todo, o único país que me acolheu foi o Brasil. O único país no mundo inteiro”, contou. “Você vive a sua vida como uma sombra quando você é apátrida. O Brasil foi um recomeço”. Ao falar do recomeço, a ativista reconheceu o trabalho da AMB pelas juízas afegãs. “As juízas são muito sortudas por ter pessoas iguais a vocês que pensaram nelas”, concluiu.

por Escola Nacional da Magistratura, em 17 de maio de 2022