”O que o mundo precisa agora? Não é amor, é democracia”, diz Lawrence Lessig em palestra no CBM
O professor de Direito em Harvard falou sobre os perigos que os algoritmos das redes sociais representam para o regime democrático
O professor de Direito na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Lawrence Lessig, foi enfático: a democracia está em risco e só as pessoas podem salvá-la. O professor, que é autor de diversos livros sobre regulação do espaço digital, foi o escolhido para abrir o ciclo de painéis na última sexta-feira (13), no XXIV Congresso Brasileiro de Magistrados.
Lessig iniciou com um panorama da democracia no mundo. Após 1945, houve um grande aumento de regimes democráticos que, agora, de acordo com o professor, estão em risco. “O que o mundo precisa agora? Não é amor, é democracia”, disse. Segundo Lessig, as próprias pessoas não acreditam mais na democracia. “As pessoas acreditam que a democracia representa apenas a elite. Não nos sentimos representados pelos nossos representantes na política e nem por nós mesmos”, ponderou.
Influência das redes sociais
E qual é a razão dessa crise? O professor Lawrence Lessig acredita que os algoritmos das redes sociais têm grande influência na crise democrática. A forma com que os sistemas funcionam favorecem a polarização dos discursos. “As plataformas não estão preocupadas com a saúde ou com os movimentos sociais. A política de ódio paga bem, funciona para eles. Quanto mais polarizados e ignorantes ficamos, mais lucrativo é para eles”, opinou.
Mas, segundo Lessig, as plataformas não odeiam a democracia. Inclusive, afirma que escolhas de priorizar certos discursos em detrimento de outros, não são feitas por humanos. “Os algoritmos ampliam alguns discursos e suprimem outros. Amplificam o que dá mais engajamento. Mas estão trazendo o pior. Estão trazendo mentiras porque é isso que os movem”, afirmou. “Criamos uma tecnologia que não conseguimos controlar. Ela é maravilhosa, mas precisamos controlá-la para que a democracia sobreviva”.
A solução para o professor é controlar a replicação de conteúdos nas redes sociais, evitando que discursos de ódio e fake news se espalhem. De acordo com o professor americano, apenas 20 milhões de pessoas produzem o conteúdo compartilhado por metade dos usuários de uma rede social. “Isso quer dizer que 0,7% produz o conteúdo para 1,5 bilhão de pessoas”.
Lessig elogiou as decisões dos tribunais do Brasil na tentativa de regular a atuação de redes sociais para evitar a proliferação de notícias falsas. “O que as cortes superiores brasileiras estão fazendo é um exemplo para o mundo. Todos temos que tomar atitudes para salvar a democracia”, concluiu.
por Escola Nacional da Magistratura, em 17 de maio de 2022